sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Valeu, Marcão!

No futebol, pouquíssimos atletas superam rivalidades entre clubes. Nesses 21 anos acompanhando futebol, não me lembro de ídolo acima de qualquer rivalidade como o Marcos.

A hora da aposentadoria chega cedo para jogadores de futebol. Há alguns anos ele mal jogava, não conseguia ter sequência, estava sempre se machucando. Ainda assim, quando jogava, mostrava que é realmente acima da média. Foi fundamental no título da Libertadores que o Palmeiras venceu em 99, foi tão importante quanto Ronaldo e Rivaldo na Copa de 2002, e só não ganhou como melhor goleiro daquele torneio porque era preciso agradar os alemães, vice-campeões e futuros anfitriões da Copa.

Entretanto, o grande talento mostrado dentro de campo torna-se secundário quando comparado a tudo que o Marcão representa fora dele. As declarações sinceras de cabeça quente, as piadas com as próprias falhas (e não foram poucas, mas todas sempre perdoadas), o fato de sempre dar a cara a tapa nos piores momentos do seu time, a autenticidade em uma época em que as declarações não saem da mesmice e são guiadas por assessores de imprensa ou por uma ética boleira que condena uma embaixadinha, mas considera porrada sinônimo de raça; tudo isso faz do Marcos uma figura única, daquelas que em alguns anos vamos contar aos nossos filhos ou primos mais novos: “eu vi essa cara jogar!”. No meu caso, vi eliminar meu time da Libertadores, mas nunca tive raiva dele, sempre o admirei muito. Aliás, como não gostar de alguém como o Marcos? Como não admirar alguém que poderia ter ficado milionário indo pro Arsenal seis meses depois de fechar o gol da seleção campeã do mundo, mas preferiu ficar no seu time de coração, jogando na segunda divisão? Isso sem falar na humildade, sempre relatada por todos. Atendia bem do estudante de jornalismo do interior ao figurão da TV aberta. Nunca foi de fazer média com ninguém, seu sucesso foi baseado em trabalho e talento, não em ações de marketing ou relações obscuras.

Nos últimos anos vi muitos jogadores que admirei ou que torci se aposentarem: Romário, Zidane, Bebeto, Cafu, Neto e muitos outros. Só duas aposentadorias mexeram comigo: a do Ronaldo, último ídolo do meu time e que também mereceu um post, e agora a do Marcos, goleiro do time rival. Aliás, como eu sempre digo, o Marcos pode entrar com a camisa do Palmeiras no meio da torcida do Corinthians em dia de clássico que ninguém encosta nele, ainda sai tirando fotos e dando autógrafos.

Valeu, Marcão! Vamos sentir falta das suas declarações folclóricas, vamos sentir falta da sua sinceridade. Um dos caras mais carismáticos que já vi e alguém que me deixa orgulhoso de falar puxando R. Finalizo com uma paráfrase livre do Erich Beting: o Marcos mostra que em um meio sujo como o futebol ainda é possível vencer sendo honesto e tendo caráter.