sexta-feira, 13 de abril de 2012

O que o fracasso do Flamengo ensina sobre talento, profissionalismo e comprometimento

A eliminação na primeira fase da Libertadores mostra que somente talento não ganha jogo. Ronaldinho Gaúcho tem a sorte de estar em uma das atividades que, ao lado do Cinema e da Propaganda, possibilitam que você trabalhe por anos vivendo do passado. O diretor ganha um Oscar, seu filme é elogiado pela crítica e sucesso de público, por anos ele terá milhões para produzir novos filmes, mesmo que acumule um fracasso após o outro. Na propaganda há profissionais que bolaram uma campanha que alavancou as vendas do cliente e ganhou vários prêmios, com isso têm emprego garantido por anos. No futebol isso também acontece. Ronaldinho vive há anos do que foi de 2004 a meados de 2006, mais especificamente até a Copa de 2006. Nesse período, o Barcelona ganhou títulos, a Seleção Brasileira tinha nele a estrela mais brilhante do seu “quadrado mágico” e ele só não fez chover. Uniu o lúdico, o espetáculo, à eficiência e títulos. De lá pra cá um drible, um belo gol ou um passe genial deixam todo mundo na esperança de que o velho Ronaldinho esteja de volta. Não está, e essa esperança exagerada em Ronaldinho é só parte da explicação para o fracasso do Flamengo, que se era sabidamente mais fraco do que os demais brasileiros na Libertadores, certamente tinha time pra passar da primeira fase sem maiores esforços.

O fiasco se explica pelo fato de que só talento não basta. É necessário comprometimento, profissionalismo. A época em que Garrincha podia chegar bêbado depois de uma noitada e ainda assim acabar com o jogo passou. Os melhores jogadores do mundo, Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, são atletas altamente preparados e comprometidos com seus times e com suas carreiras, profissionais com  talento, mas também com muita vontade de vencer, coisa que Ronaldinho e Adriano, um tiro no pé que o Corinthians deu e o Flamengo está prestes a repetir, definitivamente não têm mais. Acredito que não apenas no futebol, mas em qualquer área, uma pessoa que não tenha tanto talento, mas seja comprometida de verdade, que se aperfeiçoe, estude, a médio prazo vai ser melhor sucedida do que uma preguiçosa de talento, aquela estrelinha que não está nem aí pra nada. Não estou fazendo uma ode à mediocridade, admiro pessoas talentosas, é o talento que fascina, é o talento que atrai. O futebol não seria mágico com 11 Ralfs de cada lado, mas um só Neymar atrai velhos, crianças, homens e mulheres. Só acho que quando se soma talento e trabalho temos algo quase imbatível, vejam o Barcelona.

Além disso, temos no Flamengo a popular zona. Um time administrado porcamente, onde todo mundo manda mas ninguém manda. Um time que passou anos rondando a zona do rebaixamento, mas que se aproveitou da boa fase de Petkovic e do canto do cisne do Adriano para ganhar o Brasileirão 2009, e que, apesar de ter a maior torcida do país, não tem um time à altura da sua tradição. Talvez ele devesse ser rebaixado, foi assim que o Corinthians melhorou. Claro que o Corinthians não é nenhuma maravilha, quem até pouco tempo era seu presidente é um cartola falastrão que se une a quem quer que seja se for conveniente, a diretoria tem relações no mínimo questionáveis com algumas torcidas organizadas, mas chegar ao fundo do poço fez o time olhar de maneira profissional pro marketing, arrumar a casa e dar vida maior aos seus técnicos, mesmo quando estes estão sob forte pressão.

O que aconteceu com o Flamengo pode servir de lição, não somente ao próprio Flamengo, mas aos demais times e a todos nós. Viver do passado glorioso não basta, ter talento e não suar a camisa não é mais suficiente. Comprometimento é uma palavra surrada, gasta, mas ainda é um elemento-chave para vencer.