terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ronaldo!

Não, eu não vi Pelé. Não vi Garrincha, vi Maradona só em final de carreira e Zico só no Japão, com seus 40 anos. Mas eu vi Romário no auge, vi Rivaldo, vi Ronaldinho Gaúcho, vejo Messi, vi Zidane. Mas, principalmente, eu vi Ronaldo.

Vi o moleque que surgiu no Brasileirão de 93 conseguir uma vaga na Seleção de 94, deixando de fora gente como Edmundo, Renato Gaúcho, Evair. Vi o surgimento do apelido Fenômeno, vi seus dribles e arrancadas, vi gols que juntavam força, velocidade, inteligência e habilidade. Vi um jogador que não sabia cabecear mas pedalava pros dois lados e chutava com as duas pernas com enorme facilidade, que levava chutes e trombadas e não caía. Ouvi Galvão Bueno eternizar o Rrrrrronaldinhoooo.

Vi suas contusões, ouvi e vi muita gente dizer que ele estava acabado pro futebol. O vi ressurgir e se tornar artilheiro da Copa de 2002 fazendo dois gols na final, em uma parceria com o Rivaldo que deixou saudades, na maior emoção esportiva que tive até hoje. E olha que vi Senna ganhar campeonatos, vi o Cielo vencer a Olimpíada, vi títulos incontestáveis do vôlei, vi meu time ser campeão, vi a Maureen Maggi conquistar o ouro 8 anos depois do doping que a tirou da olimpíada em que era favorita.

Em julho de 2006 o futebol ficou mais triste, assim como fica agora em fevereiro de 2011, Zidane e Ronaldo, os melhores que já vi, os melhores dos últimos 20 anos pararam. Espero que o Messi mantenha o nível das atuações, e passe de craque a fora-de-série ou, quem sabe, Neymar e Ganso confirmem nossas expectativas e daqui 20 anos estaremos falando deles como hoje falamos de Zidane e Ronaldo. Se isso não acontecer, será uma pena para os mais jovens

Mas o que importa é que eu vi Ronaldo jogar. Com ele sempre parecia fácil dominar uma bola, dar um drible, chutar no momento exato. Alguns torcedores de clubes rivais do Corinthians vão dizer que ele estava gordo, que não fazia nada há tempos. Felizmente, na minha memória ficarão  seus bons momentos, seus muitos gols e títulos e de como foi decisivo pro meu time nos títulos Paulista e da Copa do Brasil em 2009, Obrigado Ronaldo, você foi um gênio do esporte e o futebol com você foi muito melhor de se ver.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cinema sem pretensão e pseudo cults

Eu vi Mercenários e achei legal porque não se leva nem um pouco a sério, o filme que mais vi na vida é Curtindo a Vida Adoidado, um exemplo de diversão despretensiosa, e quando criança devo ter visto aquele filme da gosma rosa no Cinema em Casa umas 4 vezes no mínimo. Também vi o Sétimo Selo do Bergman e gostei, vi Deus e o Diabo na Terra do Sol e não via a hora de acabar, aluguei uma comédia com aquele baixinho, Rob Schneider, e devolvi sem ver até o fim de tão chata. Você se pergunta: “Tá, e o quê você quer dizer?” Quero dizer que, para mim, cinema é uma questão de gosto e também de estado de espírito. Porém, muita gente não pensa assim, e chamo algumas dessas pessoas de “pseudo-cults”, pessoas que acham que o cinema só serve para passar alguma mensagem profunda ou para nos fazer pensar dias e dias sobre a visão que o diretor ou roteirista queria passar.

Claro que o cinema pode servir para isso, afinal, pensar não faz mal a ninguém. Já vi filmes bem interessantes que me levaram a alguma reflexão, mas acho que cinema também pode ser entretenimento puro e simples, sem muito compromisso com mensagens, filosofias ou dogmas. Dependendo do meu estado de espírito quero simplesmente dar risada, ver o Steven Seagal espancar 18 sem despentear o cabelo ou o Clint Eastwood matar cinco bandidos com quatro tiros, num dos seus faroestes clássicos.

Os pseudo-cults taxam tudo que não tem certa aura intelectualoide de lixo e sempre achei isso um saco. Na faculdade vi como eles são realmente chatos e algumas vezes patéticos. Em uma mesa de bar ou reunião qualquer, começavam a repetir algo que leram em alguma crítica (provavelmente escrita por algum pseudo-cult) sobre o último filme da Escola Expressionista de Vanguarda Lituana, mesmo que eles nem tivessem visto o filme e muito menos soubessem onde fica a Lituânia. Quando me perguntavam, eu fazia questão de dizer que não conhecia o assunto, e às vezes via a cara de desprezo por minha suposta ignorância, embora eu ao menos soubesse onde fica a Lituânia. Hoje, acho que deveria ter sido mais anárquico: “Olha, não sei os princípios do Dogma, mas ver uma insinuação de boquete na Loucademia de Polícia aos 6 anos influenciou minha visão de mundo”.

Portanto, conselho para algum pseudo-cult que passe por aqui: você pode passar a próxima semana vendo todos os filmes da mostra de cinema iraniano, mas qualquer dia alugue Superbad e dê umas risadas com o McLovin. Você vai ver que não arranca pedaço nem emburrece. E o mais legal, pode ser divertido!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Intolerância

Na quarta-feira o Corinthians foi eliminado da Libertadores da América de uma maneira que todos consideraram vexatória. Horas depois, torcedores invadiram o Centro de Treinamento, picharam muros (algumas vezes uma forma válida de protesto) e quebraram vários carros. O que leva alguém a ter tal reação? Alguns dirão que é a paixão pelo time do coração, outros, que os jogadores mercenários mereceram, ainda que carros de roupeiro e massagista tenham entrado na dança. Para mim a razão é outra: intolerância.

A intolerância é a raiz de muitos dos problemas e da maioria dos casos de violência em nossa sociedade. Foi a intolerância ao diferente que tornou possível ao nazismo matar tanta gente, é a intolerância que faz alguém se sentir no direito de quebrar uma lâmpada na cara de quem tem uma orientação sexual diferente da sua e foi a intolerância à derrota e à frustração que fez esses torcedores invadirem o CT e quebrarem tudo . O que não entendo, o que não me agrada, o que é diferente do meu modo de vida, eu não tolero e, se não tolero, porque deveria respeitar?

O modo de vida moderno, em que vivemos em bolhas com gente muito parecida conosco contribui para que a gente conviva cada vez menos com quem é diferente. Vivemos em condomínios com gente de poder financeiro semelhante, nos escondemos em shoppings freqüentados por gente que se veste como nós e compra as mesmas coisas que compramos. As crianças de classe média e as mais ricas crescem sem nunca ter falado com um garoto pobre, visto sempre como uma ameaça. Os adultos de amanhã acham que aquele garoto pobre que joga bolinhas pro alto no semáforo é um extraterrestre, um monstrinho que veio ao mundo pra tirar sua paz, seu dinheiro e até sua vida. Aquele garoto pobre acha que o menino rico é só mais alguém que no futuro vai torcer pra ele levar um pipoco da polícia, mais alguém a excluí-lo.

Estudei a vida toda em escola pública, vivia em um bairro próximo de áreas bem pobres, inclusive uma favela. Joguei bola com esses garotos, sabia o nome de alguns e eles o meu, saí na porrada com alguns deles (bem poucos, sou da paz, quase sempre, rss). Não sou nenhum exemplo de integração, não sou daqueles que param pra conversar com um mendigo para saber o que ele sente, o que ele pensa da vida e da sociedade, mas me sinto privilegiado por ter crescido assim, fora da bolha. Tenho medo de como será o futuro, com o mundo comandado por gente que quando criança ia do condomínio pra escola particular cheia de seguranças, dali pra aula de natação no clube e de lá pro shopping, sempre de motorista (ainda que o motorista fosse o pai ou mãe) e nunca tendo de se virar. Qual o grau de tolerância que essas pessoas terão? Será que se sentirão no direito de bater em gays ou colocar fogo em mendigos, pois eles não são iguais?

A intolerância é também uma das raízes da falta de liberdade. Alguém mal vestido não entra em uma daquelas ruas fechadas, que vemos muito em alguns bairros de São Paulo, alguém muito bem vestido, não tem coragem de entrar em uma favela onde acha que vai ser assaltado ou até morto. Nossa liberdade de ir e vir é cada vez menor, pois não nos sentimos seguros, e trocamos nossa liberdade por segurança ou pior, por uma sensação de segurança. Coloco grade nas janelas, faço um muro de 4 metros e coloco nele uma cerca elétrica pra me proteger. Perco minha liberdade de ver a rua, de poder pular a janela se perder a chave da porta. São coisas pequenas, que muita gente acha uma besteira, mas sei lá, eu acho que prefiro o risco de ter alguma liberdade à segurança total. Claro que aí também entra a questão econômica e social, mas isso pode ser assunto para um próximo post.

Neste, fica a proposta: que tal exercitarmos a tolerância? E se tem algum pai ou mãe lendo esse texto, que tal mandar seu filho a pé ou de ônibus pra natação na semana que vem?