quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Não é só mais um caso de nostalgia...


Mudar de cidade e começar do zero nunca foi problema pra mim. Procurar onde morar, recorrer a amigos que já moram na cidade, conhecer uma nova vizinhança, olhar o mapa da cidade para não me sentir perdido, descobrir quais linhas de ônibus levam pros lugares que preciso ir, achar uma academia, mercado, nada disso é problema pra mim, pelo contrario, eu gosto. Entre passagens bem curtas e maiores, essa é minha sétima cidade. Hoje, moro em Campinas.

Há cerca de 10 dias fui para Avaré votar, como faço desde 1996. No sábado saí para andar, ver a movimentação eleitoral, ver como estava a cidade. No domingo votei na minha antiga escola, fui com meu pai até onde ele vota, vi pessoas, vi mais lugares familiares. E foi então que eu tive certeza de algo que talvez eu já soubesse, mas que nunca havia parado pra pensar. Estou bem em Campinas, gosto do meu trabalho, fiz novos amigos, retomei contato com outros e a cidade não tem aquele frio avareense que nunca me agradou. Talvez eu viva aqui o resto da vida, talvez me mude de novo, quem sabe? Mas por mais que esteja bem com meu presente, Avaré está em mim, em quem eu sou, no meu sotaque caipira, é o lugar em que eu sempre terei casa.

Vivi lá até meus 20 anos, meu tetravô fundou a cidade, toda minha ascendência paterna, tanto pelo lado da minha vó quanto do meu vô está lá desde a fundação, quando a cidade ainda era um povoado e se chamava Rio Novo. Foi lá que minha mãe ficou, casou e fez sua carreira, depois de morar em 10 cidades até os 17 anos. É naquela vizinhança, perto da CAIC, do Industrial, do Bar do Seu Dito e da linha do trem, que eu cresci; é ali que os vizinhos mais velhos que talvez nem se lembrem do meu nome dizem oi pra um dos meninos que viram crescer, o filho do Abel, neto do Apparecido e da Therezinha. E foi no quintal desses dois que eu brinquei, joguei bola, esperei meus primos nas férias de julho e no Natal. Foi ali que um tio me ensinou a apanhar laranja do pé, mesmo que até hoje eu não consiga tirar a casca inteirinha como ele, foi quando eu morava ali que outro tio me emprestou os primeiros CDs que eu ouvi, que uma tia me levava na horta do meu vô pra colher morango e que outra tia contava a história do Cascão que colecionava tampinhas de garrafa e pneus velhos. Além desses, havia os que moravam fora, que eu esperava ansioso pois com eles vinham meus primos. É ali que mora minha vó, que sempre pergunta de mim pros meus pais e é ali que 8 anos depois ainda sinto falta de alguém quando chego e não vejo meu vô.

Nessa cidade tive meu primeiro emprego, ali fiz amigos pra vida toda, gente com quem eu cresci, brinquei, entrei em brigas, joguei bola e comecei a sair, quando íamos nas domingueiras da Associação. O começo da minha história está ali, e ali estão as pessoas para quem eu talvez nunca tenha dito, mas que sempre pude contar a qualquer momento, meus pais. E só agora, aos 32 anos, paro e vejo o óbvio, a cidade que foi praticamente meu nome durante a faculdade e que pra muitas pessoas é meu nome até hoje, a cidade do interior com tudo de bom e de ruim que cidades pequenas têm, o lugar do frio gelado que sempre ataca minha rinite é um lugar que sempre vai fazer parte de quem eu sou, sempre vai ser uma parte muito importante da minha vida. E isso não é só mais um caso de nostalgia...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Como a política pode ensinar a só enxergar em preto e branco


Época de eleição é uma época em que aprendemos muito. Eu, por exemplo, aprendi duas respostas que tou pensando em usar quando fizer alguma cagada:

- Thiago, você não pagou aquela conta que pedi e ficou com o dinheiro pra você?
- Eu não paguei, mas todo mundo faz isso, todo mundo deixa de pagar e gasta em cerveja. Mas o PIG, Partido da Mídia Golpista, fala como se só eu não pagasse, são uns vendidos. Isso é culpa da Veja, eu sou inocente! Além do mais, fiz isso pelo bem comum, antes de eu fazer isso tudo era pior e bem mais injusto, nunca antes na história dessa conta que eu não paguei esteve tudo tão bem.

OU

- Thiago, por que você xingou aquele cara que tava pedindo um prato de comida perto do restaurante?
- Eu não xinguei, só não aguento essa gentinha, sabe esse tipo que só quer se encostar no bolsa família? Bando de vagabundo, se tem gente pobre que consegue virar juiz, como nosso herói Barbosa, por que esse safado da frente da padaria não vai trabalhar? Culpa desses petralhas que inventam essa história de cotas, que falam como se nosso pais não desse as mesmas chances pra todo mundo, é só querer! Comunistinhas safados!

Pronto, com duas respostas-padrão dadas pelos dois lados da força você enrola e, se precisar, ainda joga a responsabilidade pelo que fez nas costas dos outros. Sem falar que um monte de gente te olha admirada, pensando que você é um cara politizado, inteligente. Viu como a gente aprende com o pessoal que tem consciência política? O que seria de nós, reles mortais, se não fosse esse pessoal que vê tão claramente o bem e o mal em tudo, né? A gente fica achando que as coisas tem várias nuances, mas o pessoal politizado nos salva quando mostra quem é o mocinho e quem é vilão. Obrigado Paulo Henrique Amorim, obrigado Reinaldo Azevedo, obrigado Pereio, obrigado Roger, sem vocês eu seria somente mais um alienado ingênuo.  

Mas peraí, e agora, que lado está certo, quem tem razão? Ah deixa pra lá, vocês são só dois lados da mesma moeda, gralhas donas da verdade que só enxergam em preto e branco. Eu, felizmente, também enxergo outras cores.