Há alguns anos vivemos em
nossas ilhas: condomínios fechados, shoppings, carros com
ar-condicionado, janela insulfilmada fechada e portas travadas.
Convivemos só com nossos iguais, não ocupamos os espaços públicos por
serem “cheios de bandido e maconheiro”, temos medo daquele moleque
magrelo que ouve funk no metrô e encaramos com naturalidade quando
governantes colocam pedras debaixo de viadutos e divisórias em bancos de praça, afinal, ali não é lugar de vagabundo.
Aí, de repente, a molecada sai dos seus cantos na periferia e insiste
em ser visível. Meu Deus, eu pago meus impostos, fico meia hora
procurando vaga aqui no shopping pra poder dar um passeio saudável com a
minha família, quero poder consumir sem medo aqui onde só tem gente
como eu, afinal, eu trabalho tanto pra quê, pra poder comprar, né? Mas
pelo jeito eles insistem em invadir nosso espaço, o que aconteceu com
aquela música “Cada um no seu quadrado”? Chegam em bandos, falando alto e
com gírias que eu não entendo, com seus bonezões de aba reta e suas
calças largas com a cueca aparecendo pra nos assustar(quanto mau
gosto!), e, ainda por cima, ouvindo esse tal funk ostentação, música que
só gente sem berço poderia criar.
O que eles pensam, será que
não tiveram educação? Puxa vida, vocês podem se divertir, mas fiquem
nos seus bairros, onde vocês são quase invisíveis e eu posso continuar
fingindo que está tudo bem enquanto eu tiver dinheiro pra ter meu carro e
fazer compras no shopping. Volto a repetir: cada um no seu quadrado!
Mas tudo bem, o shopping nos protege, ele entra na Justiça, e como a
Justiça adora manter as coisas como são pra evitar problemas, ela proíbe
o rolezinho. O quê? Eles vieram mesmo assim? Tou dizendo que esses
vândalos não respeitam nada, não têm educação, que escola será que eles
frequentaram, hein?
Sorte que existe a polícia, né? E dá-lhe
bala de borracha, gás de pimenta e cacetada nessa molecada que insiste
em estragar o passeio das pessoas de bem nesse templo sagrado que é o
Shopping Center.
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